terça-feira, 10 de agosto de 2010

Liderança e apagão de líderes: uma questão de energia

“Vendo o que todo o mundo deseja ter: energia.”
(James Watt)

Para uma discussão sobre o atual assunto do “apagão” de líderes é muito importante recorrer ao dicionário. Antes de mais nada, vamos pensar no significado da palavra “energia”, já que convoco James Watt para ilustrar minha proposta e também por esta palavra estar ligada diretamente à eletricidade.
Segundo o Houaiss, energia é a capacidade que um corpo ou uma substância possui para realizar trabalhos, isto é, um arrojo ou firmeza nos atos para a concepção ou realização de algo. Ora, seria mais do que pertinente começar este texto considerando o seguinte:

O apagão de líderes é um problema na captação e direcionamento de energias.

Sigamos com a hipótese. Atualmente, há uma considerável discussão sobre o desaparecimento de bons líderes em qualquer instância da sociedade, desde a atmosfera da organização como a pessoal e a familiar. Entendo “apagão” no mesmo sentido de queda repentina da eletricidade, da energia. De repente, a escuridão da indecisão toma conta dos atos de supostos líderes.

O Brasil é apontado como um país em desenvolvimento no cenário acadêmico. Mesmo com as grandes reclamações a respeito da qualidade do ensino fundamental e médio, o acesso às universidades tem crescido consideravelmente. Então, o que faz com que em meio a tanto crescimento, a escassez de líderes cause prejuízos ao progresso da sociedade? Estaria nosso sistema de ensino criando líderes irresponsáveis e mal preparados? É o que mostram muitas reportagens sobre o assunto. Mas vamos mudar o foco pessimista para um ponto de vista mais positivo, mais up.

Obviamente, o resultado acarretado com o apagão de líderes é a infelicidade em reconhecer que muitas oportunidades são perdidas e muitas energias desperdiçadas. Sendo assim, minha proposta é emitir uma mensagem positiva para aqueles que se consideram líderes no mercado atual. Para isto, vou apresentar algumas sugestões que dão caminhos para a possível solução do apagão.

Tem-se discutido que o principal elemento do desaparecimento de líderes é o interesse pessoal de curto prazo desses profissionais. Esses interesses instantâneos e sem planejamento sempre colocam em risco a sustentabilidade de qualquer sistema. Vamos observar este aspecto específico.

Um apagão nada mais é do que a ruptura brusca do fluxo de energia em um dispositivo. Por exemplo, uma lâmpada queimada representa bem esta impossibilidade de ação efetiva de sua potência. Um funcionário negligente, mal preparado, desconectado da equipe e pessimista pode ser comparado a uma lâmpada queimada. Ou seja, não há uma quantidade necessária de energia fluindo em seus atos para que ele possa brilhar em suas tarefas.

Warren Bennis, ao pensar o papel da liderança, não desconecta a importância dos seguidores do líder como chave fundamental do funcionamento das ações organizacionais. Para o autor, há também uma responsabilidade da equipe na atuação do líder. Ou seja, energias são cruzadas o tempo todo. São palavras dele: “Nós tendemos a avaliar o líder que age decisivamente, seja de maneira certa ou errada, mas é esperado dos seguidores que se comportem com precaução. Seguidores efetivos adquirem habilidades por (...) causarem mudança sem destruir a organização.”

O papel do líder, sob este ponto de vista, deve ser o de captar, reativar e direcionar energias, da mesma maneira como James Watt fez com o vapor em suas pesquisas. Memorize bem estas palavras, caro leitor: captar, reativar e direcionar!

Um líder deve reconhecer os focos onde se encontra a energia necessária para conduzir sua equipe. Deve promover a consciência de que o comprometimento é o principal elemento para destruir o apagão.

Sendo assim, o verdadeiro líder precisa reconhecer que os mecanismos para reativar a energia em sua equipe são cinco, as competências emocionais:

1. autoconhecimento;
2. autocontrole;
3. automotivação;
4. empatia;
5. habilidades sociais.

Com os elementos acima, um líder pode captar, reativar e direcionar energia em sua equipe. Como vemos em diversos textos de Gestão, a questão de maior interesse é conseguir causar nas pessoas um sentido de comprometimento a longo prazo, seja por questões ambientais que a empresa julga importantes, seja pelo crescimento do patrimônio da organização.

Liderar é estar a frente, é ocupar a primeira linha de combate com entusiasmo e dedicação. Em outras palavras: é acreditar na energia humana e sustentar a equipe tanto ética quanto moralmente.

O apagão de líderes pode ser evitado apenas com o sentido construtivo que as cinco competências acima postulam. Será apenas com sua devida utilização que chegaremos a um arrojo ou firmeza em nossos atos, para a concepção ou realização de algo: no nosso caso, a sustentabilidade da organização!

(por Minoru Ueda, publicado no Portal HSM)

12 comentários:

  1. Olá,Carolina. Muito obrigado pelo incentivo e feedback.

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  2. O conceito físico de energia é: "Energia é trabalho, tudo aquilo que possa ser produzido do trabalho, ou nele convertido", conforme a definição de Ostwald; de um modo mais simples podemos dizer que energia é a capacidade de produzir tabalho; existem diversas espécies de energia: a mecânica, a térmica, a elétrica, a nuclear e outras, aqui apresento para comentar o artigo as duas espécies em que as diversas energias podem se apresentar: potencial e atual.Um corpo tem energia potencial (ou de reserva) quando, apesar de ter capacidade de produzir trabalho, não o faz no momento por um impedimento qualquer, e terá energia em estado atual quando no momento considerado ela está sendo transformada em trabalho.Então, na analogia que o autor do artigo faz entre apagão de líderes com a questão da energia, considero válidas as suas conclusões, pois o que verificamos hoje, é que há um enorme potencial de liderança disponível, mas que por motivos os mais variados não se tornam atuais, devidamente em trabalho.Os motivos para isto são diversos. Apresento aqui a questão relacionada ao exemplo. Hoje a sociedade coloca o consumismo, e com isto a questão do sucesso pessoal e profissional estar diretamente ligado ao se ter dinheiro. E o que se vê? Os escândalos nas diversas áreas da sociedade nos apresenta a possibilidade de se ter fortunas sem a devida necessidade do trabalho árduo, do estudo, mas sim de muitos contatos, do ser amigo da pessoa certa no lugar certo e na hora certa.A formação, a realização pessoal voltada ao se fazer aquilo que se gosta e fazer bem, não é mais levada muito a sério inclusive no nível escolar, e então, estes jovens que te este potencial, acabam não se tornando um verdadeiro líder, pois na sua caminhada ele não têm como ver e seguir um líder que o leve a ver, não só o louros da vitória, mas, principalmente a dureza da caminhada.
    Leonardo Stuepp
    Professor, escritor e palestrante.

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  3. Olá, Leonardo, muito obrigado por vossas considerações entre energia e trabalho. No mundo corporativo este “enorme potencial de liderança disponível” fica represado e sem condições de transformar-se em trabalho, por conta por exemplo das questões culturais , destacados pelo Dariel Tadeu Feltrin. Concordo com você que os valores impactam sobremaneira neste ambiente, e com certeza o consumismo desenfreado traz consequências nesta formação do ser humano , inibindo o seu propósito de vida e o seu potencial em todas áreas da vida.

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  4. O apagão de líderes é resultado de várias ações. Uma, que considero a principal, é a valorização do técnico que é premiado com um cargo de gestor. O que temos é a perda de um ótimo técnico e o ganho de um gestor que não será brilhante, porque não é um lider para gerir pessoas e trabalhar com a burocracia e relacionamentos internos e externos. Enquanto as empresas não tiverem a percepção real sobre os seus funcionários, não conseguirá identificar os lideres. O melhor lider não é, necessariamente, o que conhece a parte técnica e sim, aquele que sabe tirar o melhor de quem sabe. Talentos são desperdiçados a cada momento.

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  5. Olá, Laryssa, realmente o seu diagnóstico está correto. Este é o grande dilema das carreiras técnicas, que traz um grande desafio e reflexões para aqueles que administram os planos de carreira dentro do mundo corporativo. Carreiras horizontais estão sendo propostas para estes profissionais, porém neste ambiente que você destacou de relacionamentos internos e externos, muitos talentos realmente são desperdiçados. Esta percepção real sobre os funcionários, mencionados em seu comentário é extremamente pertinente neste momento para não apenas atrair bons profissionais, como também reter estes talentos.
    Muito obrigado pelo comentário.

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  6. Olá a todos!
    Parabéns Prof. Ueda pelo artigo e concordo com o comentário da Laryssa, ser Líder é muito diferente que ser Gerente, antigamente quando falávamos em liderança este assunto estava muito ligado a gerenciamento de processos.Atualmente quando estudamos os verdadeiros Líderes, vemos que estes, valorizam as pessoas equilibrando habilidades e competências, desta forma engajando mais suas equipes com os propósitos das empresas, não só no sentido de resultados mas também desenvolvendo relações positivas de puro crescimento para ambos.Ok, voltamos para o apagão devomos reconhecer que não encontramos tantos líderes assim atuando no mercado, mas segun John Maxwell no livro as 21 Irrefutáveis Leis da Liderança, podemos sim maximizar algumas habilidade e nos desenvolvermos como líderes, fica aí a dica que nossas faculdades devem sim, se preocupar com este assunto, mas que nós também devemos fazer nossa parte aumentado nosso conhecimento para evoluir.

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  7. Olá, Dani, obrigado por vossos comentários. Você tem razão o processo de autodesenvolvimento é um componente substancial para dinamizar a construção da liderança, pois traz consigo o autoconhecimento e a automotivação, duas competências emocionais que constroem um caminho sólido para aqueles que desejam influenciar pessoas. Como você destacou o equilíbrio entre habilidades e competências incentiva o engajamento da equipe, o que permite trazer mais uma duas competências emocionais neste diálogo que é a empatia e as habilidades sociais, elaborando assim as relações de puro crescimento,conforme o seu comentário.
    Um abraço

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  8. Excelente o contexto do artigo. Entretanto, vale ressaltar que a "escuridão" que hoje envolve muitos "supostos" lideres e tomadores de decisões são decorrentes dos obstáculos culturais, organizacionais e gerenciais, os quais estão expostos. Dessa forma, a maleabilidade na gestão das pessoas é o ponto fundamental para "diblar" os obstáculo e atingir objetivos.

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  9. Olá, Tadeu. Com certeza a cultura organizacional influencia sobremaneira no desempenho do profissional, ora incentivando a sua criatividade ou barrando a proatividade do profissional. Creio que a gestão de pessoas voltada ao comprometimento insere-se dentro deste contexto de maleabilidade mencionado por você, que traz dentro do ambiente corporativo uma luz para repensar a gestão por controle ainda presente dentro do mundo empresarial.
    Muito obrigado.

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  10. Sim, estamos órfãos de líderes e em todas as esferas sociais. Vivemos numa sociedade na qual idolatra-se e vislumbra-se, em sua maioria, aquele que está na mídia, que pouco ou nada traz de sabedoria ou conhecimentos, sejam eles políticos, artistas, esportistas, empresários, etc. e tal. Vivemos no mundo da momentaneidade e do imediatismo, da luxúria e do vaidosismo. É claro que tudo isso faz parte do homem moderno, mas em doses pinceladas e não como fatores principais. Mesmo assim, acredito na persistência de alguns anônimos, que seguem as fórmulas mais simples para liderar, cativar e trazer resultados positivos.

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  11. Olá, Lua. Concordo com você em gênero e número. Os líderes anÿnimos, que adotam a estratégia simples de cativar entregando valores e resultados positivos, são aqueles que oferecem sustentabilidade dentro das organizações e nas esferas sociais.
    Um abraço.

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