segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

2011 contra o complexo de avestruz

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança...”

Carlos Drummond de Andrade

Vou aproveitar a euforia do ano novo para falar sobre temas básicos de planejamento para o ano que chega. Vou ilustrar como muitas vezes nosso desejo de abandonar as atividades e mergulhar de cabeça no ócio pode ser um típico complexo de avestruz (termo é de Francis Wolff).


Quando queremos largar tudo o que fazemos, trancar a porta do escritório e desligar o celular por uma semana, aparentemente não estamos resolvendo nossos problemas de stress. Simplesmente os colocamos entre parênteses por um tempo. O complexo de avestruz ocorre quando nos sentimos atulhados de compromissos e esperamos uma brecha para “enfiar a cabeça debaixo da terra”, ou seja, sumir por um período das responsabilidades. Infelizmente o ano novo acaba sendo usado apenas com esta finalidade.

O leitor pode estar se perguntando: Ora, Ueda, quer dizer que não posso tirar meu merecido descanso e ficar longe das obrigações? Como assim? Bom, vamos com calma então. Que tal começar falando sobre o verso de Carlos Drummond de Andrade: O sujeito que cortou o tempo em fatias industrializou a esperança. O que isto quer nos dizer?

Segundo o poeta brasileiro, o homem dividiu o ano em 365 dias porque é impossível encarar o tempo como uma unidade indivisível. Imagine você leitor, trabalhar e trabalhar sem saber que depois de 365 dias terá um momento para pensar no futuro e planejar coisas para o ano que chega. Parece absurdo, não é?! Simplesmente ninguém aguenta trabalhar sem fazer uma pausa anual. Porém, o que deve ser pensado é: quais elementos compõem essa pausa naturalmente sagrada? O que fazer quando temos um tempo de liberdade?

Muitas pessoas pensam que o simples fato da mudança de calendário é capaz de gerar uma alteração qualitativa na vida. Arrancar a última folha do calendário sem planejar o ano que chega é apenas uma mudança quantitativa no número de dias. O que deve nos inspirar na chegada do ano é nos sentirmos merecedores do ano novo, ou seja, um compromisso com o novo.

Por isto, quando chega o momento de descansar, simplesmente pensamos em abolir qualquer situação que nos lembre trabalho. Em 2011, devemos afastar o complexo de avestruz ao tentarmos esquecer todos nossos compromissos na praia, no clube ou no resort. É momento de realizar um descanso contemplativo. Eis o argumento principal desta minha saudação de ano novo.

Romper com o complexo de avestruz é sustentar o novo com ações definitivas de amor pelo bem estar. Devemos descobrir que a mensagem de bem estar está dentro de nós mesmos. Isto explica a euforia que sentimos no momento em que os fogos de artifício enchem o céu de nossas cidades no Réveillon. É o ápice da sensação de que o homem necessita de mudanças. Não é por acaso que a palavra “Réveillon”, termo proveniente do verbo francês “réveiller”, significa "despertar", em português. O que queremos é despertar para uma novidade que parece habitar o ano que está chegando. Contudo, essas mudanças não acontecem simplesmente com a troca da folhinha no calendário.

Como diz Drummond, cortar o tempo depois de 365 dias serve para fazer brotar esperança nas pessoas. Para fazer brotar esperança é necessário construir cenários de renovação. A proposta é contemplar a própria vida buscando esperança no ano que começa e inserir novos significados na esperança.

Quando alguém é questionado sobre os planos para o novo ano, sentimos uma inquietação. Poucas são as pessoas que refletem sobre o fazer no ano que chega. Isto é a causa principal para se transformar descanso em tédio. A insatisfação após as férias, quando temos que retornar ao cotidiano, é um fator que desanima muita gente. Porém, aqueles que contemplam a própria vida nos momentos de folga, podem planejar coisas para o futuro.

Para finalizar, fiquem com outro verso de Drummond, o poeta que nos ensina a planejar o ano novo: “Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”.

(por Minoru Ueda, publicado no Portal Mundo do Marketing)

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