domingo, 8 de janeiro de 2012

Liderança empática | entrevista

Muito se fala sobre mudanças organizacionais, especialmente da necessidade de as empresas se adaptarem aos conceitos de qualidade de trabalho e de vida em meio a tantas fusões e aquisições. No entanto, pouco se refere à cisão nos relacionamentos em decorrência desse cenário. Por conta disso, o professor convidado da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP) Minoru Ueda, especializado em Competência Emocional e Qualidade de Vida no Trabalho, propõe que as competências emocionais, dentre as quais a empatia, sejam usadas para a sustentabilidade das relações. A partir daí, Ueda, um dos mais renomados consultores organizacionais brasileiros, acredita ser possível os líderes verem suas equipes não como um aglomerado de funcionários, mas como pessoas reunidas para manter a empresa como uma célula sustentável. É sobre isso que ele fala em seu recente livro "Competência Emocional: Quanto antes, melhor!" (Editora Qualitymark).

Correio do Povo - Por que você diz que a empatia é essencial nas empresas de sucesso?
Minoru Ueda - O dicionário Houaiss define empatia como "capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de aprender do modo como ela aprende". Todas estas competências emocionais são elementos essenciais para a construção de um bom ambiente de trabalho, levando à construção do comprometimento e gerando com isto bons resultados. Acredito que o maior bônus que uma pessoa pode receber em seu ambiente de trabalho é saber que é reconhecida e respeitada em sua individualidade. E a prática da empatia entre gestor e subordinado representa uma ferramenta essencial dentro do mundo corporativo.

CP - Do que é constituída essa empatia?
Ueda - A empatia é uma das competências emocionais, juntamente com o autoconhecimento,autocontrole, automotivação e habilidades sociais. Defino a empatia como a capacidade de levar em consideração as experiências das outras pessoas com o mesmo nível de importância que consideramos as nossas. É o segredo para o relacionamento com todas as pessoas, tanto no ambiente profissional como também no âmbito pessoal. Está intimamente associada à comunicação e representa a competência emocional que se volta para a vida em grupo exigindo uma nova maneira de "prestar atenção" e ouvir sensivelmente, sem julgamento. Por meio da comunicação empática podemos falar de uma prática do comprometimento com as outras pessoas, pois as diferenças individuais, além de serem vistas como obstáculos, passam a ser motivos de acolhida.

CP - Quais as pessoas precisam ter empatia? E devem usá-la de que forma?
Ueda - Acredito que todos os profissionais, mas principalmente os gestores, pois são os profissionais que influenciam positivamente ou negativamente a sua equipe. Hoje, em função da grande demanda de trabalho e crescimento da economia, as empresas sofrem este impacto de incomunicabilidade entre as pessoas, influenciando negativamente nas relações interpessoais. É comum ouvirmos nos corredores das empresas frases como: "o pessoal do terceiro andar, ou a turma da área X..." criando um apartheid organizacional, isto é, uma ruptura causada pela falta desta competência emocional. O líder empático praticando a empatia sai de um ponto de incomunicabilidade e reverte a situação para o acolhimento do outro.

CP - Como é possível exercitar a empatia?
Ueda - Através da comunicação empática exercitamos esta competência emocional. A nossa linguagem corporal, como a postura, os gestos e o contato visual compõem grande parte do aparato comunicacional. A capacidade da escuta empática representa um grande diferencial para o líder, pois através dela permitirá uma participação efetiva da sua equipe em determinados projetos e desafios do dia a dia. Nas palestras pergunto se as pessoas costumam ouvir empaticamente, ou ouvir realizando download, ou seja, enquanto o interlocutor está falando, estamos pensando em outros assuntos. Contudo, nosso corpo deve produzir signos de empatia. Quando alguém fala conosco, devemos prestar atenção no que esta sendo dito antes de fazer julgamento.

CP - É possível resumir quais devem ser os passos da liderança empática?
Ueda - Dentro da realidade de mudanças contextualizadas nas fusões, aquisições e parcerias, destaco sete passos: Ter visão de conjunto do funcionário; ter visão global da empresa; mudar com as mudanças; valorizar os pontos positivos das gerações; estabelecer a fórmula "competência + entrega = empatia"; resolver conflitos comportamentais e fazer o outro deixar de ser "pedaço" de instituição.

(Enntrevista realizada pelo Jornal Correio do Povo)

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