segunda-feira, 31 de maio de 2010

Resgatando sorrisos

As cenas do cotidiano não precisam ser mirabolantes para nos ensinar preciosas lições sobre as necessidades humanas. Se pensarmos na quantidade de vezes que pequenos acontecimentos nos possibilitaram uma nova maneira de pensar, com certeza vamos ficar espantados. E por que não parar e observar esses eventos como fenômenos de aprendizado?

O maior desafio que encontramos atualmente é a dificuldade de desenvolver a capacidade de observação para que nossas decisões não sejam aleatórias e, por isso mesmo, arriscadas. O indivíduo coloca sempre o seu universo em questão e, assim, se aprofunda na realidade.

Hipótese 1 ok: o mundo é composto de pequenos eventos que podem nos ensinar coisas preciosas. Vamos para a hipótese 2.

Quem nunca chegou em uma empresa para uma reunião e precisou fazer o registro na recepção. A velha frase: “Bom dia, tenho uma reunião marcada às 10h com o senhor X, quinto andar.” E a moça pergunta: “O senhor já tem cadastro aqui?”. Cenas comuns, procedimentos de rotina, entregar o RG, tirar uma foto e seguir o caminho. Qual é nosso relacionamento com esses atendentes? Seriam eles apenas meros registradores de nossos documentos? Acredito que uma reunião de negócios começa no momento em que trocamos as primeiras palavras com o pessoal da recepção.

Certo dia, uma recepcionista ajustou a câmera para tirar a foto e, naturalmente, eu dei um sorriso como sempre faço. Ela estranhou minha expressão. Automaticamente, percebi que, por meio de minha ação, o esboço ainda tímido de um sorriso começou a aparecer no rosto dela. “Acredito que não seja muito frequente alguém sorrir para uma foto que aparentemente seria tão formal”, perguntei. O que aprendi com isso?

Notei que é possível resgatar sorrisos das pessoas com ações simples. “Resgatar” está relacionada à ideia de “reatar”, e duas questões surgem a partir disto:
a) resgatar é buscar algo que foi perdido;
b) reatar é criar um novo fio de ligação com o que foi perdido.

Existiria uma maneira mais efetiva de “resgatar” a humanidade das pessoas a não ser pelo sorriso?

Existe neste gesto um processo de acolhida. Um sorriso sincero é aquele que traz alguém para perto de nós. É a partir de um sorriso natural que endereçamos a alguém que nos permite dizer “Nós”. Acolher alguém pelo sorriso é romper com qualquer delimitação do crachá, da profissão da pessoa e um caminho para a empatia.

Sorrir naturalmente é atingir o ser humano em sua espontaneidade. Existe algo mais prazeroso do que um sorriso de acolhida que se forma no rosto das pessoas? Este desenho automático é o núcleo do conceito de acolhida. Convido à todos a sorrirem diante das câmeras, pelo menos na recepção da vida cotidiana.

(por Minoru Ueda, publicado na Revista Ser Mais, edição 12)

2 comentários:

  1. Minoru, belo artigo, meu pai sempre ensinou para mim e meus três irmãos: é melhor ser querido que aborrecido. Esta lição foi muito importante para nós, que temos uma legião de amigos. Em segundo, como é bom doar um tempo para ouvir o próximo, sempre tens o que aprender ou ensinar. As pessoas estão tão preocupadas com os afazeres do dia-dia competitivo, que esquecem de sorrir ou fazer alguém proximo sorrir, o que falta pra o ser humano é paz de espírito. Sorria sempre para o próximo.
    Um abraço.

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  2. Excelente reflexão, Minoru, como sempre! Na atualidade precisamos resgatar valores perdidos e com certeza, se cada um fizer sua parte o mundo será bem melhor.
    Um abraço!
    Isabel

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